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Um ansioso em terapia.

Quando minha psicóloga pediu que eu escrevesse sobre minha ansiedade, recebi a sugestão com um certo ceticismo, da mesma maneira quando dizemos “vamos marcar de sair, viu?”. 

Existem tarefas que exigem da gente e escrever sobre minha relação com a ansiedade com certeza exige muito de mim. É uma tarefa homérica porque requer que eu olhe para mim, que fale de mim, mesmo sem dizer quem eu sou. Isso se dá porque cada um se relaciona com ela de maneira diferente. Podemos ter o mesmo diagnóstico, mas cada um terá sua  particularidade, seus medos específicos e os rituais para amenizá-los. 

E eu odiei ter ansiedade, ignorei até o limite, aquele em que o único pensamento que cruza sua cabeça é o de estar louca. Tomei medicação, troquei de psicóloga, troquei de medicação e de psiquiatra, ajuste aqui, ajuste ali, mais troca de psicóloga. 

Minha meta era a cura, era não precisar de nada exterior a mim para lidar comigo mesma. E perceber que talvez eu nunca conseguisse me livrar dessa companhia azeda levou um tempo. A parte dolorida disso tudo foi perceber que ninguém conseguiria arrancar aquele sentimento de desespero que só quem tem ataque de pânico conhece bem, é uma mistura de alívio (bom, o da semana já foi) com alerta (agora é esperar o próximo). 

A ansiedade se retroalimenta: quanto mais você a sente, mais você a tem. E há sempre aquele desconhecimento, principalmente quando perguntam “por que você  está ansiosa?” e a única coisa que você sabe dizer é “eu não sei”, porque de fato a ansiedade trabalha com o que não sabemos – ou pouco sabemos – sobre nós, e isso é angustiante. 

E você  pode até saber que ficará ansiosa quando entrar em um avião e ter todos os fatos que geram tranquilidade, mas ainda assim você tem consciência que há muitos fatores que você  desconhece e que são imprevisíveis. 

Assim como a vida, ironicamente. A maneira que encontrei de lidar com a minha ansiedade foi compreender que ela faz parte de mim e que talvez sempre faça, mas que deve ser usada como um alarme, daqueles que me forçam a prestar atenção quando algo está desalinhado dentro de mim ou sinalizam para as áreas inexploradas e negligenciadas do meu ser. 

Não há receita de bolo. É um processo individual, solitário até, cuja linha de chegada não dá para enxergar. Mas bem, já que estou no caminho, o que posso fazer é aproveitar a jornada, percorrendo as paisagens dentro de mim mesma, várias e várias vezes, até que seja capaz de encontrar beleza nas minhas dores, ressignificar meus traumas, respeitar os vales e montanhas da minha alma, apreciando as partes que fazem de mim um todo. 

*Relato de um cliente em tratamento para ansiedade clínica.

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